Fico encantado cada vez que reflito sobre as atitudes de Paulo e Silas, quando foram presos por terem libertado aquela moça (escrava) que tinha o espírito de Pitão, a qual, com as suas adivinhações, dava muito lucro a seus senhores (At 16, 16). Nada do que eles sofreram (perseguições, mentiras, açoites, etc…), após expulsarem este espírito em nome de Jesus, o fizeram negar a fé. Muito pelo contrário. Mesmo depois de verem o povo sendo incitado contra eles e de toda essa humilhação, por serem presos injustamente, eles ainda achavam um tempo para rezar e cantar seus louvores a Deus.
Muitos de nós, no lugar de Paulo e Silas, certamente estariam revoltados e totalmente entregues à derrota, ao desânimo e ao medo. Mas não é o que a passagem bíblica nos relata a respeito desses homens de fé, homens cheios do Espírito Santo e conscientes do poder que têm a oração e o louvor a Deus.
“Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam. Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos. Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui. Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas. Depois os conduziu para fora e perguntou-lhes: Senhores, que devo fazer para me salvar? Disseram-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família. Anunciaram-lhe a palavra de Deus, a ele e a todos os que estavam em sua casa” (At 16, 25-33).
Quero destacar, nessa passagem citada acima: não é normal a atitude de orar e louvar a Deus à meia noite dentro de uma cadeia. Muito menos diante de tanta provação. Só uma pessoa cheia do Espírito Santo, a exemplo de São Paulo, que viveu e nos ensinou que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (Rm 10,1), poderia agir com tanta confiança.
Quase sempre fazemos o inverso ao deixarmos de entregar a Deus nossos pesados fardos de sofrimento e dor, e os tornamos ainda mais pesados, acrescentando a murmuração e o descontentamento com a vida. Guardamos esses sentimentos ou transferimos para as pessoas que nos cercam. E muitas vezes deixamos escapar a oportunidade e a graça de entregar tudo ao Senhor. Deixamos também escapar as oportunidades de abalar as estruturas do mal, contrárias ao amor de Deus. As atitudes de louvor diante das adversidades geram questionamentos nas pessoas.
Para tal postura na prisão, Paulo e Silas demonstraram que sabiam que o Senhor estava com eles em todos os momentos. Eles tinham um grande conhecimento de Jesus (coisa que ainda faltava ao carcereiro e ao outros prisioneiros).
Pelos detalhes que o autor (Lucas) apresenta no texto, é possível concluir que Paulo e Silas, apesar de estarem presos e algemados, estavam, na verdade, livres. Pelo fato de se negarem a deixar a prisão quando todas as portas e algemas se abriram, demonstraram porque suas vidas eram um verdadeiro culto espiritual a Deus, como disse São Paulo aos Romanos (Rm 12, 1).
São Paulo sempre fez questão de mostrar a importância da oração e do louvor a Deus. Em sua carta aos Efésios, ele aconselha a louvar e cantar em todas as circunstâncias (Ef 5, 19), demonstrando que compreendia bem os benefícios e os frutos da oração e do louvor sincero a Deus.
Cabe a cada um de nós, como cristãos, nos momentos de adversidades, em que perece não ter nenhum motivo para louvar, buscar fazer a nossa parte. Com nossas atitudes, mostrar ao mundo (especialmente às pessoas mais próximas a nós) que a oração e o louvor a Deus têm sim o poder de combater todo o mal, curar e libertar a pessoa de si mesma, do inimigo e do mundo, e levá-la ainda a uma vida plena em Jesus.
Que possamos louvar e dar graças, sem cessar e por todas as coisas, a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef 5,20).
Nando Mendes