A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar, Fernando Henrique e Lula. Agora dizemos que Dilma não serve.
E o que vier depois de Dilma também não servirá para nada… Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, no oportunismo privatizador de Fernando Henrique ou na dificuldade do Lula entender que governar uma grande nação como o Brasil não é como dirigir um grande sindicato para os seus associados somente. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. As vaias à presidente Dilma são matéria de capa internacional, prima do constrangimento imposto ao atual governo federal, que se não quiser ficar parecido com os jogadores japoneses depois dos 3×0 do jogo de abertura, precisa abrir os olhos para ler a indignação da Pátria para com a corrupção blindada pelos três poderes.
Presidenta Dilma foi vaiada por milhares de torcedores no jogo de abertura da Copa da Confederações 2013. Foi um momento muito difícil para ela, que ainda teve de engolir um esboço de consolo do presidente da CBF, José Maria Marin, sobre o qual pesam inúmeras acusações de ligação com o regime militar da ditadura que a torturou. Mas ela agora é a bola da vez, afinal ela tem se empenhado como ninguém na realização da Copa das Confederações deste ano, e da Copa do Mundo 2014, ano das próximas eleições presidenciais.
Porque pertenço a um país onde a “ESPERTEZA” é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas
caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal… E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as “EMPRESAS PRIVADAS” são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos …e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu “puxar” a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a
declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas fazem “gatos” para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros. Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso ex Presidente, que falava que é “muito chato ter que ler”) e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica.
Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns. Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser “comprados”, sem fazer nenhum exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem “molhei” a mão de um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã ter passado para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não! Não! Não! Já basta!!.
Como “Matéria Prima” de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa “ESPERTEZA BRASILEIRA” congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula ou Dilma, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte…
Me entristeço.
Porque, ainda que Dilma renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que a suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada… Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, não serviu Lula, não serve a Dilma, e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Será que o povo brasileiro seguirá a sua genética teimosa de só fazer o que é certo pelo medo? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa “outra coisa” não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados… Igualmente sacaneados!!!
É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa “brasilinidade autóctone“ (brasilidade nativa) começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda… Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro… Somos nós os que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de
televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. É o desencontro entre os fatos e as interpretações tendenciosas de cada interesse menor. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. NEM PEGAR UM ÔNIBUS COM O ESPELHO NAS MÃOS, PARA EU ME INDIGNAR COM O CUSTO BRASIL TAMBÉM!
E você, o que pensa?.. MEDITE! E como Paulo Busko, é O QUE EU SEMPRE DIGO: “ O GOVERNO SOMOS NÓS, OS POLÍTICOS, NEM TANTO ASSIM”.
E eu acrescento: o que nos falta é EDUCAÇÃO!
*** João Ubaldo Ribeiro ***
Texto retirado do jornal do meio ambiente, publicado em 14 de novembro de 2005, por João Ubaldo Ribeiro, e por mim atualizado em 15 de junho de 2013.
Eraldo Mattos, Baixista da banda Anjos de Resgate