Outro dia, eu estava na capela, contemplando uma gravura da Família de Nazaré e pensando em Jesus, Maria e José, sobre como é difícil viver o dia-a-dia, como é difícil para nós viver o ordinário, a rotina.
Quando a gente lembra ou lê sobre a vida dos santos ou de grandes nomes da história, por mais completa que seja uma biografia, a gente só consegue enxergar os momentos pontuais da vida da pessoa. Isso acontece também com a própria Família de Nazaré. Só enxergamos os momentos pontuais: a anunciação, o caminho para Belém, a procura por abrigo, o nascimento, a visita dos reis e dos pastores, a fuga para o Egito, a volta para a Judéia, etc. Mas o dia-a-dia, o sol a sol, trabalhando, vivendo cada hora, cada momento, tudo lento, normal, corriqueiro, ordinário, é muito difícil.
Eu acredito que é justamente aí onde se escondem os atos heróicos das pessoas. Muito mais do que naqueles momentos pontuais em que os objetivos, as histórias se concretizaram. Esperar, dia a dia, que os desígnios de Deus se cumprissem naquele menino, que se sabia ser diferente, mas que no dia-a-dia se mostrava tão normal, acredito que não era nada fácil. Viver o corriqueiro é a grande escola de Deus na vida da gente. Nós nos preparamos para viver o extraordinário, não para o ordinário, para o dia-a-dia. Na escola, na sociedade, sempre nos preparam para tirar a nota dez, para passar no vestibular, para passar no concurso, ser o melhor. Sempre momentos pontuais.
Ninguém nos prepara para viver um dia depois do outro, o agora, o hoje. Não somos treinados para os fracassos e sucessos do dia-a-dia, para viver o ordinário da vida. E o pior (ou o melhor) é que Deus se manifesta justamente no ordinário.
Veja lá o exemplo da mulher samaritana (Jo 4, 4-14): Era mais um dia na vida dela. Estava na rotina de pegar água no poço, coisa que ela fazia várias vezes todos os dias. E em uma dessas vezes, naquele dia, que para ela era igual aos outros, Jesus apareceu e mudou toda a vida dela. Era mais um dia para ela, mas era o dia propício para Deus se manifestar.
Ou a gente se prepara para encontrar Deus no ordinário de nossas vidas ou vamos passar o resto da vida esperando o extraordinário acontecer para poder se realizar, se decidir, tomar uma atitude. E isso pode nunca acontecer. Como o extraordinário não é comum e por isso não sabemos quando vai acontecer, pode ser que ele aconteça e a gente não veja, não perceba ou simplesmente não esteja preparado no momento.
O mesmo aconteceu com Moisés (Ex 3, 1-10). Na rotina dele de pastorear o rebanho, no ordinário do dia-a-dia, se deu o extraordinário. Naquele dia, igual aos outros, mais um dia de rotina, ele foi um pouco mais além e encontrou a sarça ardente. Quer dizer… Não foi bem ele que encontrou a sarça ardente, foi ela que quis ser encontrada por ele. É Deus se manifestando no cotidiano. É engraçado como que, ao falar sobre a história de Moisés, a primeira coisa que lembramos é da fuga do Egito, do Mar Vermelho aberto para que o povo passasse a pé enxuto. Normalmente não se fala dos anos e anos em que ele viveu como um simples pastor de ovelhas. Sem saber, estava sendo preparado, na escola do dia-a-dia, para se tornar o pastor do povo de Deus.
Imagine os longos anos que separaram a fuga de Moisés do Egito, depois que matou um soldado, até esse momento de encontrar a sarça ardente e receber revelação da sua missão. Como Deus vai ensinando, vai treinando sem que a gente se dê conta. Para nós é só o dia-a-dia, o ordinário, a rotina… Para Deus, é a nossa escola. Uma escola que nos prepara para aquilo que ele quer de nós e que ainda não fazemos idéia do que seja.
Estas palavras nos da o conforto e segurança para podermos lutar cada dia mais neste mundo que Deus nos deu.
Sou fraca mas Deus me dá cada dia mais força para continuar lutando nas minhas provações.
E eu sei que jamais ele irá me abandonar.
“Ou a gente se prepara para encontrar com Deus, ou…”
Gosto de crer na força destas palavras, ou passaríamos a viver sem um rumo, sem almejarmos o santo, o puro, a verdade que nos impulsiona a santidade a felicidade!
Ao ler tuas palavras Alexandre, me recordo de um texto inpirador, de nosso querido João Paulo II, onde ele fala sobre os santos do dia-dia…
“Precisamos de Santos sem véu ou batina.
Precisamos de Santos de calças jeans e tênis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.
Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se “lascam” na faculdade.
Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade.
Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida em nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.
Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man.
Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refri ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte.
Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.
Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos”. (João Paulo II)
É sempre bom relembramos que todos os grandes construtores da história não viveram em um mar de rosas, mas souberam fazer das provações, degraus para santidade…
Diante das dificuldades que a vida nos propõe, me conforto em saber que ao menos estamos no caminho certo!
E esta luta se dá dia após dia…
Gd Abraço,
Ju Miranda
O que eu acho, que este encontro com JESUS quem e dependente; como eu ;vem todo dia.
Enquanto lia, uma frase foi se desenhando na minha cabeça: O extraordinário nasce dentro do ordinário.
Logo a frase se confirmou no 6º parágrafo.
Acredito que tudo tem uma cronologia, tudo tem o seu tempo, como está escrito em Eclesiastes 3. O que é o dia extraordinário senão um dia ordinário em que tudo se encaixou no seu lugar? Nós nos preparamos, Deus abriu o caminho, o tempo era favorável, o lugar era propício. Caso um destas variáveis não aconteça, então o extraordinário deixa de acontecer.
De fato, vivendo o ordinário, descobriremos o extraordinário da vida.
Um abraço, Deus nos ajude.